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Novas terapias para Zika com base em anticorpos monoclonais obtidos de pacientes com a doença

A manifestação mais grave da Zika é o dano ao sistema nervoso central de fetos de mães grávidas infectadas com o ZIKV. Nem todas as mulheres grávidas infectadas com o vírus, no entanto, vão ter bebês com mal-formações. Nós acreditamos que o sistema imunitário dessas mães cujos bebês nascem e se desenvolvem sem problemas apesar da infecção monta uma resposta contra o vírus que protege o feto. Essa proteção provavelmente depende de anticorpos, moléculas produzidas pela mãe que podem atravessar a placenta e proteger a criança no útero de diversas maneiras: 1) se ligar ao vírus e bloquear sua entrada na célula hospedeira; 2) ativar outros mecanismos efetores imunitários como complemento e fagocitose; 3) modular a resposta inflamatória do hospedeiro. Se esta hipótese for verdadeira, é possível usar ferramentas biotecnológicas para se retirar de pessoas infectadas com ZIKV os genes que codificam esses anticorpos protetores e utilizá-los para produzir em laboratório anticorpos monoclonais, que poderiam então ser usados para tratar pessoas infectadas com o Zika e, entre outras coisas, proteger fetos da infecção materna com ZIKV.

Neste projeto, vamos coletar amostras de pacientes da coorte de Zika DF para obter genes que codificam anticorpos contra o Zika. Estes anticorpos serão isolados em laboratório por meio da tecnologia de phage display, em que bactérias e vírus que infectam essas bactérias (bacteriófagos) são utilizados como ferramentas para seleção in vitro de anticorpos que se liguem a um determinado alvo. Além desta biblioteca de phage display produzida a partir de amostras de pacientes, vamos também utilizar outra biblioteca sintética produzida em laboratório, a partir de mutações em um anticorpo humano protetor contra o HIV. Anticorpos selecionados destas bibliotecas que se liguem ao ZIKV serão submetidos a diversos testes in vitro para avaliar sua capacidade de neutralizar e bloquear a infecção pelo vírus. Aqueles que apresentarem resultados promissores nestes experimentos poderão ser produzidos em maior escala para testes em animais experimentais e futuramente para testes clínicos em pacientes infectados com o vírus. Desta forma, além de aprendermos um pouco sobre a resposta imunitária contra o vírus poderemos utilizá-la como ferramenta para tratar a doença e prevenir os danos causados pela Zika, principalmente em bebês.